Título do Artigo    Autor    Palavra-chave  
Pesquisar:
Nº 44 >

Editorial

A identificação dos fatores de risco na criança, na família ou outros, o seu impacto na saúde mental das crianças e a procura e desenvolvimento de estratégias de intervenção que ajudem a restabelecer dinâmicas relacionais e percursos desenvolvimentais mais saudáveis é uma das linhas orientadoras dos clínicos prestadores de cuidados de saúde mental infantil e juvenil.


Download do editorial


  • Psicoterapia Mãe-bebé: Revisão do tema e reflexão sobre as influências culturais a propósito de um caso clínico
    Bárbara Almeida, Mafalda Marques, Goretti Dias
    Psicoterapia mãe-bebé, Vinculação, Desenvolvimento, Diferenças culturais

    A psicoterapia mãe-bebé é uma psicoterapia da díade mãe-filho cujos principais objetivos são melhorar a relação do cuidador com a criança pequena de forma a promover um melhor desenvolvimento psicoemocional de ambos mas, sobretudo, do bebé. De orientação psicodinâmica, é uma terapia que tem sido pouco debatida mas com comprovados resultados quando aplicada a crianças com problemas psico-socio-emocionais com impacto no desenvolvimento, cuja origem se evidencia numa crise diádica. No nosso caso, são consideradas não só as problemáticas inerentes à relação e a sua influência no desenvolvimento da bebé, como o fato de se tratar de uma criança de um grupo de risco (dois irmãos mais velhos com problemas do neurodesenvolvimento) e os aspetos culturais a ter em conta já que, por diversas vezes no processo terapêutico, se colocaram questões que diferiam precisamente pelo background cultural diferente, nomeadamente o da cultura angolana/africana. Após a intervenção psicoterapêutica, as terapeutas objetivaram várias melhorias na relação da díade bem como no desenvolvimento da criança, tendo havido a alteração da vinculação da bebé que passou de Insegura Resistente a Segura, avaliada através da filmagem da interação e posterior visualização com discussão em equipa. A Classificação Diagnóstica das Perturbações de Saúde Mental e de Desenvolvimento da Primeira Infância (DC:0-5) enfatiza a importância destas questões na prevenção e na melhoria da saúde mental.

  • Bem me quer, mal me quer… Perturbação da relação cuidador-criança - Caracterização do diagnóstico de Eixo II (DC 0-3R) numa amostra clínica de primeira infância
    Joana Mesquita Reis, Berta Pinto Ferreira, Luísa Queiroga, Pedro Caldeira da Silva
    Perturbação da relação, Psicopatologia, Primeira infância, Pais-criança

    Embora vários autores tenham alertado para a influência da relação com o cuidador no desenvolvimento psicoafetivo da criança, as investigações relativas às perturbações da relação, à sua evolução ao longo tempo e aos fatores que contribuem para o desenvolvimento posterior de outros diagnósticos psicopatológicos, são ainda escassas. Com este estudo pretendeu-se caracterizar uma amostra clínica de crianças, com idades compreendidas entre os 0 e os 4 anos de idade, com o diagnóstico de perturbação da relação cuidador/criança (Eixo II – DC 0-3R). Numa fase posterior pretende-se realizar um estudo longitudinal para avaliação da dinâmica evolutiva destes quadros. Verificou-se uma associação entre a existência de psicopatologia materna e a presença de uma perturbação na relação cuidador/criança. Assim, este estudo alerta para importância de um diagnóstico e intervenção precoce da psicopatologia materna de forma a prevenir a instalação destes quadros. Adicionalmente reforça a importância de uma proximidade e articulação entre os serviços de psiquiatria e pedopsiquiatria.

  • A inveja e o ciúme no complexo fraterno
    Pedro Rafael Figueiredo, Paula Zaragoza, Isabel Carvalho, Pedro Pires
    Inveja, Ciúme, Desenvolvimento, Infância

    A inveja e o ciúme estão transversalmente presentes na vida de todos os seres humanos, sendo considerados sentimentos essenciais para o desenvolvimento e funcionamento psíquico. Apesar de universalmente presentes no nosso quotidiano, considera-se que em determinadas circunstâncias estes sentimentos podem representar uma fonte de enorme conflito e instabilidade emocional, causadora de disfuncionalidade. Complementando a revisão teórica destes conceitos com uma vinheta clínica, este trabalho visa, assim, reflectir acerca da importância destes conceitos para o desenvolvimento psico-afectivo das crianças e dos adolescentes, particularmente evidentes na relação fraterna. Evidenciam-se ainda as dinâmicas individuais e familiares responsáveis por esta temática, assim como a importância das estratégias de intervenção clínica. Os sentimentos de inveja e de ciúme surgem na infância precoce do indivíduo e revelam-se como possíveis factores de instabilidade na construção da identidade humana.

  • Jovem refugiado, em consulta de pedopsiquiatria: Uma abordagem psicodinâmica
    Catarina Garcia Ribeiro, Sofia Vaz Pinto, João Beirão
    Refugiados, Migração e Saúde Mental, Pedopsiquiatria

    A migração forçada, principalmente em precárias condições socioeconómicas, pode causar um impacto significativo na saúde mental de crianças, jovens e adultos. Segundo os dados da European Society for Child and Adolescent Psychiatry (ESCAP) existem atualmente cerca de 65,6 milhões de pessoas deslocadas forçosamente à escala mundial. Cerca de 25% são menores de 18 anos e sabe-se que os refugiados e migrantes irregulares correm maior risco de psicopatologia. A partir de um caso clínico de um menino de 9 anos natural de um país da África Oriental, que foi referenciado pela escola à consulta de Pedopsiquiatria, este trabalho propõe uma reflexão de cariz psicodinâmico sobre a abordagem de crianças e de jovens refugiados na clínica. Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a saúde mental de crianças e jovens refugiados, a partir de autores com uma abordagem essencialmente psicodinâmica e das normas de orientação da ESCAP. Segundo a bibliografia, esta população pode desenvolver psicopatologia distinta de acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontra, sendo que na idade da latência o impacto negativo que a experiência migratória pode ter surge sobretudo em contexto escolar. Neste período a criança investe as aprendizagens, em detrimento dos investimentos libidinais infantis, situação que poderá estar em risco em crianças refugiadas pelas dificuldades acrescidas que encontram no seu percurso de vida. Na vinheta clínica descrita, quer a intervenção clínica numa perspetiva psicodinâmica que permitiu a compreensão da problemática interna, quer a articulação com a escola segundo os princípios da ESCAP, mostraram-se benéficas.

  • Urgências em pedopsiquiatria: O que mudou?
    Ana Rita Rodrigues, Isabel Taveira-Gomes, Otília Queirós
    Pedopsiquiatria, Urgência, Adolescência, Alterações do comportamento, Ansiedade

    Introdução: O número de crianças e adolescentes que recorre aos serviços de saúde mental em Portugal tem vindo a aumentar, com um maior afluxo aos serviços de urgências, o qual não se encontra, porém, devidamente caracterizado. Objetivos: Este estudo pretende caracterizar a população de crianças e jovens até aos 18 anos de idade, que recorreram à Unidade de Atendimento Urgente (UAU) de Pedopsiquiatria do Centro Materno Infantil do Norte (CMIN) durante o ano de 2016, e comparar os dados obtidos com os de outros estudos nacionais publicados. Métodos: Procedeu-se à análise retrospetiva de todos os casos que recorreram à UAU de Pedopsiquiatria do CMIN, entre janeiro e dezembro de 2016, através da consulta dos registos clínicos eletrónicos. Resultados: Verificou-se um total de 1136 episódios de urgência no período estudado, dos quais 81.1% correspondiam a adolescentes, sendo a maioria dos casos do sexo feminino. Os motivos de urgência mais frequentes foram as alterações de comportamento e a presença de sintomatologia ansiosa. Em termos de orientação após observação na UAU, a maioria dos doentes (78.2%) foi encaminhada para Consulta Externa de Pedopsiquiatria. Conclusões: Estes resultados confirmam um aumento de episódios de urgência de Pedopsiquiatria na região Norte. Este aumento do número de episódios ocorreu, sobretudo, à custa da população adolescente e das perturbações de ansiedade. Verificou-se uma grande diminuição em relação ao número de internamentos em comparação com o estudo de 2008 no Porto e de 2013 de Lisboa. Isto leva-nos a inferir que o aumento do número de episódios de urgência não foi devido a uma maior ocorrência de situações de psicopatologia grave.

  • Colapso súbito e inesperado pós-natal: Novas exigências durante o período neonatal
    Lara Pinheiro Guedes, Carmen Carvalho, Paula Pinto de Freitas
    Colapso súbito e inesperado pós-natal, Contacto pele-a-pele, Morte súbita infantil, Cuidados pós-natais, Recém-nascido

    Introdução: O Colapso Súbito e Inesperado Pós-natal pode definir-se como uma paragem cardiorrespiratória em recém-nascidos aparentemente saudáveis, durante os sete primeiros dias de vida. Apesar de rara, esta entidade tem vindo a alertar a comunidade científica pelo seu carácter inesperado, por parecer associar-se ao contacto pele-a-pele e especialmente por culminar com frequência em morte ou sequelas graves naqueles que sobrevivem. Para além das consequências físicas, associa-se também a repercussões psicossociais nas famílias e profissionais de saúde. Contabilizaram-se 22 casos a nível nacional desde 2010 até julho de 2018. Objetivos: Com esta revisão bibliográfica, pretende-se apresentar, sinteticamente, o Colapso Súbito e Inesperado Pós-natal, bem como potenciais medidas preventivas a aplicar em território português, a par das que vigoram já em outros países. Metodologia: Foram utilizadas as bases de dados PubMed e PsycINFO. Não existindo descritores Medical Subject Heading, foram combinados os termos “postnatal”, “newborn*”, “neonatal”, “collapse”, “sudden”, “unexpected” e “sudden unexpected postnatal collapse”. Os critérios de inclusão foram: colapso até ao sétimo dia de vida e recém-nascidos com pelo menos 34 semanas, aparentemente saudáveis à nascença. Os critérios de exclusão foram: idade gestacional inferior a 34 semanas, diagnóstico de patologia e/ou malformações congénitas prévio ao colapso, índice de Apgar inferior a 8 aos 5 minutos de vida e colapso após o sétimo dia de vida. As referências dos artigos selecionados foram alvo de cross-searching. Foram também consultados artigos esclarecedores para temas-chave.

Nº 43 >

Editorial

É elevada a prevalência de doença mental na população adulta (segundo a OMS 1 em cada 5 sofre de perturbação mental), Sabemos que muitos destes adultos terão filhos crianças e que existe um maior risco de descompensação psicopatológica nas crianças filhas de pais com doença mental. Vale então a pena debruçarmonos sobre os efeitos da psicopatologia parental na saúde mental das crianças, tanto mais que o impacto poderá ser diferente em função do estádio desenvolvimental da criança.


Download do editorial


  • Crescer na Doença – O Impacto da Patologia Psiquiátrica Parental a partir do Caso Clínico de uma Criança
    Pedro Rafael Figueiredo, Paula Zaragoza, Pedro Pires
    Impacto, Patologia psiquiátrica parental, Psiquiatria, Infância

    Actualmente, as perturbações mentais representam um dos principais desafios de saúde pública na Europa e no mundo, abrangendo diversas faixas etárias da população pediátrica e adulta. Neste contexto, o impacto da patologia psiquiátrica parental no desenvolvimento psico-afectivo da criança tem adquirido particular destaque na comunidade científica, sendo agora evidente que filhos de pais com doença mental apresentam maior risco de desenvolver perturbações psiquiátricas ao longo da sua vida. A partir de uma vinheta clínica, este trabalho visa, assim, elaborar uma revisão teórica acerca do impacto da patologia psiquiátrica parental na saúde mental da criança. Evidenciam-se os factores de risco individuais e ambientais presentes nestas famílias, assim como a importância das estratégias de suporte familiar e social. Conclui-se que a implementação de medidas de prevenção e protecção para estas crianças deve constituir uma prioridade, reforçando-se a necessidade de uma intervenção precoce.

  • Filhos de Pais com Doença Mental Grave: Projeto de Avaliação e Intervenção na Área da Saúde Mental da Primeira Infância
    Sandra da Silva Mendes, Ana Vera Costa, Mário Silva, Diana Mota, Joana Calejo Jorge, Sara Melo, Sandra Borges, Graça Mendes
    Filhos de pais com doença mental, Primeira infância, Diagnóstico, Intervenção, Prevenção

    Introdução: A doença mental nos pais associa-se ao aumento do risco de dificuldades emocionais, problemas de comportamento e de psicopatologia em geral nos filhos. Para além do impacto direto sobre a descendência, pelo aumento do risco biológico de transmissão, associa-se também, muitas vezes, à existência de comorbilidades clínicas e estilos de vida disfuncionais, condicionando dificuldades sérias na parentalidade, com prejuízo da sensibilidade, responsividade, continuidade e contingência dos cuidados parentais. Objetivos: Caracterização das crianças e famílias avaliadas no âmbito da Consulta “Pais e Filhos”, consulta especializada de Primeira Infância desenvolvida no serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do CHVNG/E em cooperação com o serviço de Psiquiatria do mesmo hospital. Metodologia: Foram revistos todos os processos clínicos das crianças seguidas na consulta “Pais e Filhos”, no ano da sua formação, em 2017. Foi preenchida uma grelha de avaliação sociodemográfica e clínica da amostra. Foi considerada a Classificação Diagnóstica Multiaxial DC:0-5. Foi feita uma análise qualitativa e quantitativa, com recurso ao programa EXCEL. Posteriormente, foi conduzida uma pesquisa bibliográfica na base de dados Pubmed com os termos “Mental health of infants and children of parents affected with mental ilness” [MeSH Terms] para comparação dos resultados. Resultados: Foram avaliados 13 processos clínicos, verificando-se um predomínio do risco socioeconómico elevado bem como uma tendência à existência de alteração da relação entre a criança e os cuidadores. Em 5 casos identificou-se a presença de psicopatologia na criança: perturbação da relação (3), reação de ajustamento (1) e perturbação da regulação do processamento sensorial (1). Em 2 casos, foi evidente a co-morbilidade da perturbação da relação com a perturbação do sono e com a perturbação do choro, respectivamente. À semelhança do descrito na literatura, verificou-se, ainda, um predomínio de psicopatologia na mãe. Conclusões: As crianças filhas de pais com doença mental constituem um grupo de alto risco de dificuldades emocionais, comportamentais e de psicopatologia em geral, revelando-se crucial a implementação de avaliação e intervenção atempada nesta população.

  • Adolescentes com Necessidade de Avaliação Urgente por Pedopsiquiatria numa Urgência Pediátrica Portuguesa de Nível Terciário
    Mariana Abreu, Paulo Éden Santos, Lara Lourenço, Alda Mira Coelho, Ana Maia, Almeida Santos
    Patologia psiquiátrica, Adolescentes, Urgência pediátrica, Pedopsiquiatria

    Introdução: Os distúrbios em saúde mental são frequentes na população adolescente. O objectivo deste estudo é caracterizar a população de adolescentes admitidos na Urgência Pediátrica do Porto (UPP) com necessidade de observação urgente por Pedopsiquiatria durante um período de dois anos, fazendo-se também uma breve reflexão sobre o modelo de atendimento destes doentes. Materiais e Métodos: Foi efetuado um estudo retrospetivo através da análise descritiva dos processos clínicos electrónicos dos referidos doentes. Foi usado o sistema de Classificação Internacional de Doenças (CID-10) para categorizar as patologias. A análise estatística foi realizada no Microsoft Excel®. Resultados: Foram admitidos 406 adolescentes com necessidade de avaliação urgente por Pedopsiquiatria. O sexo feminino representou 66.5% dos casos. A média de idades foi de 15.5 anos. Houve recurso prévio à UPP por queixas do foro da saúde mental em 26.8% dos doentes e 63.5% tinham patologia psiquiátrica já conhecida; 45.6% dos doentes tinham seguimento em Psicologia ou Pedopsiquiatria; 28.3% apresentavam antecedentes de perturbações do humor. Foram identificados potenciais fatores de risco em 49.3% dos doentes, sendo mais prevalente a disfunção familiar. Estavam medicados com psicofármacos 37.4% dos doentes e 20.2% polimedicados. Os fármacos mais usados eram os ansiolíticos. Foram diagnosticadas perturbações do humor em 50.4% dos doentes, sendo o motivo de admissão mais frequente a perturbação depressiva major, com ingestão voluntária medicamentosa em 27.3% e ideação suicida em 17.2% dos adolescentes. Comentários: Os Pediatras devem estar alerta para os fatores de risco e primeiros sinais de doença mental. A orientação precoce para Psicologia/Pedopsiquiatria pode prevenir comportamentos de risco, potencialmente fatais.

  • A psicoterapia de Adolescentes: Uma Viagem bem Acompanhada
    Isabel Nóbrega F. Trindade
    Adolescência, Nova relação, O psicoterapeuta e a sua adolescência, Um novo objeto de relação

    Este trabalho pretende ser uma reflexão sobre a psicoterapia psicanalítica com adolescentes, oferecendo-se como um contributo para o trabalho multidisciplinar que esta fase do desenvolvimento requer. Considera-se que a vida emocional só se cria na relação com o outro, e que o terapeuta representa um novo objeto de relação. A qualidade desta relação e a capacidade de compreender o adolescente remete para a capacidade do psicoterapeuta contatar bem com a sua própria adolescência, e invoca necessariamente a presença de outros objetos de relação que fazem parte da vida de ambos, adolescente e terapeuta. Este percurso conjunto pode então ser uma viagem em boa companhia. No final, apresentamos um caso clínico que ilustra esta forma de sentir a psicoterapia com adolescentes.

  • Comorbilidade Psiquiátrica na Perturbação do Espectro do Autismo em Adolescentes e Adultos: Revisão da Literatura
    João Picoto, Vitor Santos, Helena Rita
    Autismo, Comorbilidade, Adolescentes, Adultos, Depressão, Ansiedade, Perturbação obsessiva-compulsiva, Psicose, Sobreposição clínica

    Introdução: A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é caraterizada por défices persistentes na interação e comunicação sociais, e por comportamentos repetitivos e estereotipados que acompanham o indivíduo da infância à vida adulta. Se anteriormente era atribuído ao próprio Autismo todas as manifestações clínicas destes doentes, actualmente existe a noção de que a comorbilidade psiquiátrica é um problema frequente nestes indivíduos, com um forte impacto no funcionamento e qualidade de vida destes. Assim, o presente trabalho pretende realizar uma revisão da literatura sobre comorbilidade psiquiátrica na PEA, em adolescentes e adultos. Métodos: Foi realizada uma pesquisa da literatura na base de dados médica PubMed, até setembro de 2016. Resultados: Foram encontrados 35 artigos originais com estimativas de prevalência de comorbilidade psiquiátrica em adolescentes e adultos com PEA. Existe uma elevada prevalência de comorbilidade psiquiátrica em adolescentes e adultos com PEA, sobretudo Depressão, Ansiedade e Perturbação Obsessivo-Compulsiva. Conclusão: Apesar da grande variabilidade nos valores encontrados, fruto de metodologias heterogéneas entre os vários estudos, a presença de comorbilidade psiquiátrica em adolescentes e adultos com PEA é frequente, sendo o seu correto e atempado diagnóstico essencial para obtenção de melhores cuidados de saúde nesta população.

  • Conquistas e Desafios à Investigação no Internato de Pedopsiquiatria: a Experiência de Coimbra
    Rita Gonçalves, C. Amaral, P. Santos, S. Neiva
    Investigação científica, Internato médico, Pedopsiquiatria, Percepções, Barreiras

    Ao longo das últimas décadas tem-se verificado grandes avanços na área das neurociências e conhecimento do funcionamento do cérebro. Não obstante, estes avanços não se têm refletido nas práticas clínicas em Psiquiatria. Uma das razões para esta situação, é o escasso número de psiquiatras que se dedicam à investigação, o que contribuiu para a criação de um fosso entre a clínica e a investigação, que põe em risco projetos pertinentes para a aplicação clínica. Várias instituições médicas têm vindo a alertar para o facto do número de Psiquiatras da Infância e Adolescência que se dedicam à investigação científica estar “de forma muito alarmante, aquém das necessidades atuais”. A literatura tem demonstrado que o contacto com a investigação científica durante o internato constitui um dos principais fatores preditores da produção científica de um médico. Neste estudo exploratório transversal pretendemos conhecer as perceções, atitudes e eventuais barreiras sentidas pelos internos de Pedopsiquiatria do Hospital Pediátrico de Coimbra, durante a condução de projetos de investigação. Para este fim, foi recolhida informação através de um questionário composto por 24 questões fechadas dirigidas aos internos. Com a análise dos dados obtidos, pretende-se caracterizar a situação atual e debater estratégias que promovam o contacto dos internos da nossa especialidade com a investigação científica. Os resultados revelam um aumento da produção científica entre os internos de Pedopsiquiatria nos últimos anos. Não obstante a maioria dos internos de Pedopsiquiatria expressar interesse em realizar investigação e a considerarem essencial para a sua prática clínica, não consideram que o internato lhes forneça as ferramentas necessárias para no futuro realizarem investigação no âmbito da sua especialidade. As principais barreiras apontadas pelos internos à condução de projetos durante a formação são a escassez de tempo para dedicar ao trabalho de investigação, a indisponibilidade de supervisores com treino para orientação de projetos, a falta de treino formal em metodologias de investigação e a perceção de escassa valorização deste trabalho pelas instituições e serviços.

  • "Tá pirando, pirado, pirou!" O Carnaval no combate ao Estigma da Doença Mental no Brasil
    M. Costa de Sousa, L. Queiroga
    Doença Mental, Estigma, Reforma psiquiátrica, Inclusão

    Ao longo da História da Humanidade, a doença mental surge como um obstáculo entre o indivíduo e o seu próprio ambiente, tornando-o alienado da sociedade. O objetivo deste artigo é precisamente divulgar uma modalidade atual de combate ao estigma e à integração de pessoas com doença mental na sociedade, recorrendo a uma atividade culturalmente relevante, neste caso o Carnaval no Brasil. Tudo surgiu após a Reforma Psiquiátrica no Brasil, implementada em 2001. O tratamento da doença mental passou a ser preferencialmente em regime ambulatório ao invés do internamento, fomentando a integração do doente na sociedade e a desativação gradual dos manicómios. Dada a festividade carnavalesca ser vivida intensamente em todo o Brasil, em 2004 foi criado um “Coletivo Carnavalesco” designado por “Tá Pirando, Pirado, Pirou!”, organizado por trabalhadores do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O objetivo deste cortejo é acima de tudo desmistificar a ideia de que as pessoas com patologia mental são perigosas e proporcionar aos doentes um sentimento de pertença à sociedade, mostrando que o tratamento pode ser conduzido sem que haja exclusão social. A organização do coletivo é feita através de “Oficinas” que correspondem a atividades organizadas pelos trabalhadores do Instituto com os doentes e familiares, onde se prepara o desfile, desde a confeção da roupa até à aprendizagem do Samba. A adesão dos utentes, familiares e profissionais tem vindo a crescer, permitindo uma maior sensibilização da comunidade para a patologia mental e desta forma contribuir para a diminuição do estigma associado. Em 2018 foi criada pela primeira vez a ala infantil, representada pelo Centro de Atenção e Reabilitação à Infância e Mocidade (CARIM), vinculada ao Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que atende o público infanto-juvenil. Desde há quinze anos que este coletivo desfila na Avenida Pasteur do Rio de Janeiro, sendo considerado um dos maiores símbolos de inclusão da doença mental na comunidade brasileira.

Nº 42 >

Editorial

Assumir a direção da Revista Portuguesa de Pedopsiquiatria é uma responsabi - lidade e um desafio.

Uma responsabilidade porque implica dar continuidade ao trabalho iniciado com a publicação do seu primeiro número em Dezembro de 1990 sob a orientação de António Coimbra de Matos, médico humanista, pedopsiquiatra, psicanalista, investigador clínico e grande divulgador de conhecimento nomeadamente nas áreas da psicopatologia, da intervenção psicoterapêutica, do desenvolvimento e da saúde mental e prosseguido com o mesmo empenho, rigor e entusiasmo pelos colegas e continuadores Maria Luís Borges de Castro e Pedro Pires.


Download do editorial


  • Caracterização dos Hábitos de Sono na Primeira Infância numa População Clínica
    Berta Pinto Ferreira, Joana Mesquita Reis, Rita Mafalda Teixeira, Pedro Caldeira da Silva
    Sono, Primeira infância, Rotinas, Centro de Estudos do Bebé e da Criança / Unidade da Primeira Infância

    Introdução: Os problemas de sono fazem parte das queixas mais referidas, nomeadamente as dificuldades para as crianças se tranquilizarem e adormecerem na hora de dormir e os despertares noturnos frequentes. O objectivo deste estudo foi caracterizar os hábitos de sono na primeira infância. Materiais e Métodos: Construção de questionário sobre os hábitos de sono na primeira infância, aplicando-o a uma população de crianças atendidas em primeira consulta de pedopsiquiatria no Centro de Estudos do Bebé e da Criança / Unidade da Primeira Infância (n=93), dos 0 aos 3 anos de idade, durante o ano de 2014. Resultados: A média de idades é de 27 meses, variando entre 1 e 36 meses. Não existem diferenças estatisticamente significativas entre sexos e idades relativamente ao ambiente em que dormem. 77% das crianças têm rotinas antes de adormecer. As crianças que têm rotinas, têm menor dificuldade em adormecer (p=0,028). 38,04% dos pais considera que existem problemas de sono. A média do número total de horas de sono entre os 3 e os 11 meses foi de 12h e entre os 12 e os 35 meses de 11h. Discussão: Concordante com a literatura, a maioria das crianças acorda durante a noite (61,3%), o número e a duração de sestas diminui ao longo da vida e os problemas de sono são frequentes (38,04%), apesar de neste estudo terem uma prevalência ligeiramente superior. A duração de sono das crianças é inferior ao recomendado. Conclusão: Verifica-se uma associação significativa entre a inexistência de rotinas e a dificuldade em adormecer e uma associação significativa entre crianças que dormem sozinhas e ausência de problemas de sono.

  • Efeito da Musicoterapia nas Perturbações do Espetro do Autismo: Uma Revisão Baseada na Evidência
    Carina Freitas, Katherine Figueira
    Musicoterapia, Autismo, Crianças, Revisão

    Introdução: As perturbações do espetro do autismo são um conjunto de patologias do neurodesenvolvimento que se manifestam por dificuldades na comunicação e interação social, associadas a comportamentos repetitivos. A musicoterapia tem sido descrita na literatura como uma terapêutica complementar benéfica nestes pacientes. O objetivo deste trabalho consiste em rever a evidência do efeito da musicoterapia como intervenção não farmacológica, em crianças e adolescentes que sofrem desta patologia. Métodos: Pesquisaram-se normas de orientação clínica, revisões sistemáticas, metanálises e ensaios clínicos controlados e aleatorizados, nas bases de dados da National Guideline Clearinghouse, Scottish Intercollegiate Guidelines Network, Canadian Medical Association Infobase, Cochrane Library, Bandolier, Pubmed e Índex das Revistas Médicas Portuguesas, publicados desde sempre e até dezembro de 2015, em inglês ou português, com os termos MeSH, “music-therapy” e “autism spectrum disorder” ou “autistic disorder”. Resultados: Foram incluídos nesta revisão seis artigos: uma norma de orientação clínica, uma metanálise, duas revisões sistemáticas e dois ensaios clínicos controlados e aleatorizados. Na maioria dos estudos verificou-se que a musicoterapia apresenta evidência limitada como intervenção não farmacológica em crianças e adolescentes com perturbações do espetro do autismo. Conclusões: É necessária a realização de mais estudos de investigação, de boa qualidade metodológica, para se estabelecer a eficácia da musicoterapia neste grupo terapêutico.

  • The Co-occurrence of MRI Findings in Children Diagnosed with Autism Spectrum Disorders. Is the pineal cyst important for autism?
    Fábio Gouveia, Mariana Costa, Alda Coelho
    Autism spectrum disorders, Pineal cyst, Magnetic resonance imaging findings

    Objectives: Evaluate the simultaneous occurrence between magnetic resonance imaging findings, namely pineal cysts, and children diagnosed with autism spectrum disorders. Experimental procedures: Retrospective case-control study carried out on 161 children: 93 cases diagnosed with autism spectrum disorder (38 with level 1 severity and 55 with level 2 severity) were compared with 68 controls (non-autistic patients). All participants had done a magnetic resonance image and were patients of the paediatric psychiatry appointments. Results: This study shows that the prevalence of pineal cysts is higher in autistic children comparing with non-autistic children (84.6% vs. 15.4%, p=0.041). If the level of severity of the autism is discriminated into level 1 and 2, there is also a significant difference between the groups (15.4% vs. 84.6% vs. 0.0% in non-autistic, level 1 and level 2 ASD, respectively, p<0.001). The latter association was analysed calculating the odds of the presence of pineal cyst and having level 1 autism which was increased but with a wide variability (OR, 95%CI 13.75, [2.38-79.38]). Conclusion: There is a possible association between pineal cysts and autism spectrum disorders as shown in this study. This association is stronger in the children diagnosed with level 1 autism, since it is the group with the highest prevalence of pineal cysts (11.8%). It would be interesting to further explore the factors underlying this correlation by extending the study to a larger sample.

  • Uso de Antipsicóticos em Idade Pediátrica - Revisão
    Guiomar Oliveira, Sara Pedroso, Carlos Filipe, Catarina Santos, Isabel Santos, Margarida Crujo, Paula Barrias, Paula Freitas
    Antipsicóticos, Criança, Idade pediátrica, Perturbações do neurodesenvolvimento e do comportamento, Doença mental e psiquiátrica

    Este artigo pretende disponibilizar recomendações de boas práticas para a utilização de antipsicóticos em idade pediátrica, tendo por base o estado da arte neste domínio e a experiência clínica de especialistas da área que integram este grupo de trabalho.

  • Risco da Separação dos Irmãos na Adoção, no Acolhimento Familiar ou no Acolhimento Residencial
    Sara Oliveira Cunha, Maria do Carmo Santos
    Siblings, Foster Care, Residential care, Sibling adoption, Siblings separation

    Introdução: Nas últimas décadas, verificou-se um crescente interesse pelo estudo do impacto da separação dos irmãos em crianças que foram retiradas das suas famílias e colocadas em medidas de acolhimento ou adoção. Vários estudos têm procurado determinar de que forma as fratrias podem constituir um fator protetor para estas crianças e quais as diferenças existentes entre as crianças que foram colocadas em conjunto e aquelas que foram separadas dos seus irmãos. Objetivo: Este trabalho pretende realizar uma revisão não sistemática da literatura científica relacionada com os resultados da colocação conjunta ou separada de irmãos nas crianças colocadas em acolhimento residencial, familiar ou adoção, relativamente à estabilidade da colocação, bem-estar, socialização e comportamento das crianças. Material e Métodos: Pesquisa na base de dados ScienceDirect e Pubmed, utilizando as seguintes palavras-chave: “siblings”; “foster care”; “residential care”; “sibling adoption”; “siblings’ separation”, em agosto de 2017. Foram incluídos os estudos que avaliaram as diferenças verificadas entre as crianças separadas dos irmãos e aquelas que foram colocadas em conjunto, não separando a fratria: onze estudos abrangem o contexto de acolhimento familiar, três o contexto de acolhimento residencial, um estudo no âmbito da adoção e uma investigação que inclui as três colocações. Além destes, foram incluídos outros trabalhos considerados importantes para a compreensão da temática. Resultados: Vários estudos identificam benefícios para as crianças que são colocadas em conjunto com os seus irmãos, principalmente nas seguintes variáveis: bem-estar, resiliência e apoio emocional; menos problemas do tipo internalizador e externalizador; melhor autoconceito e relacionamento com os pares; melhor rendimento académico; maior autonomia nos cuidados pessoais; maior proximidade com a família de acolhimento; e maior estabilidade da colocação. Contudo, noutros estudos não se encontram diferenças estatisticamente significativas. Discussão/Conclusão: Os estudos existentes aconselham a realização de esforços para a manutenção das fratrias, em conjunto, nas diferentes colocações. Contudo, também são discutidas algumas situações em que existe benefício na separação dos irmãos, principalmente nos casos de relação negativa e problemática entre os irmãos e de relação abusiva na fratria.

Nº 41 >

Editorial

O presente número convida-nos à reflexão, pelo rigor e pluralidade dos artigos publicados, sobre o importante e notável trabalho que é desenvolvido em Portugal em prol da melhoria dos cuidados em saúde mental da infância e adolescência.


Download do editorial


  • Prescrição de Psicofármacos em Crianças e Adolescentes – Como é que os Pedopsiquiatras Portugueses percecionam a sua prática?
    Catarina Santos, Augusto Carreira, Álvaro Carvalho, Bárbara Menezes, Carlos Filipe, Conceição Távares de Almeida, Cristina Miranda, Guiomar Oliveira, Isabel Santos, Margarida Crujo, Paula Barrias, Paula Freitas, Sara Pedroso
    Psicofármacos, Crianças, Adolescentes, Pressão, Prescrição, Pedopsiquiatria

    Introdução: Embora tenha havido, recentemente, um interesse crescendo em relação à prescrição de psicofármacos em crianças e adolescentes, há muito pouca informação sobre esta prática em Portugal. Neste contexto, a Direção Geral de Saúde promoveu a criação de um grupo de estudo que se debruçasse sobre este tema. Este trabalho surge como a primeira iniciativa deste grupo para procurar compreender o fenómeno da prescrição de psicofármacos em crianças e adolescentes em Portugal. Metodologia: Foi desenhado um questionário especificamente para o estudo referido. Os resultados foram obtidos através de uma análise quantitativa. Embora este questionário fosse muito extenso, este artigo foca-se apenas nas perguntas relacionadas com o recurso à associação de psicofármacos para o tratamento de doenças psiquiátricas e nas questões relacionadas com a pressão para a prescrição. Resultados: Os médicos que participaram neste estudo referiram sentir-se pressionados para medicar por falta de outros recursos. Esta pressão foi superior nas Perturbações do Comportamento (P. Comportamento) e na Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), e menos marcada nas Perturbações Depressivas e nas Perturbações Psicóticas. Curiosamente, o recurso à associação de psicofármacos foi também mais frequente nas P. Comportamento e menos frequente nas P. Psicóticas. Conclusões: De acordo com este estudo, a falta de recursos influencia muito a decisão para prescrever. Estes resultados limitam-se apenas à perceção que os clínicos têm sobre a sua prática. Desta forma, serão necessários mais estudos para compreender melhor o uso de psicofármacos em Portugal e para aumentar a sensibilização para este tema.

  • Perturbação Depressiva na Criança e no Adolescente – Conceitos-chave e Intervenção
    Catarina Santos, Margarida Crujo, Augusto Carreira, Guiomar Oliveira, Isabel Santos, Paula Barrias, Paula Freitas
    Adolescentes, Crianças, Depressão, Desenvolvimento, Intervenção, Pedopsiquiatria

    A depressão na criança e no adolescente é uma entidade comum, embora só tenha começado a ser reconhecida relativamente recentemente e continue a ser subdiagnosticada. Tem havido um maior interesse da comunidade científica e clínica sobre este tema, visto o diagnóstico precoce e a intervenção adequada terem impacto no prognóstico da doença e na qualidade de vida destas crianças e adolescentes. O diagnóstico de depressão em idade pediátrica é complexo, por ser um quadro de apresentação heterogénea. Esta heterogeneidade justifica-se pela variação das manifestações de acordo com o grau desenvolvimento e com facto de existirem comorbilidades frequentes. Deste modo, recomenda-se que o diagnóstico seja feito por pedopsiquiatras. Atualmente, há alguma controvérsia em relação ao tratamento da depressão em idade pediátrica. Desta forma, continua a haver ligeiras discrepâncias nas normas de orientações clínicas em vigor em diferentes países ocidentais. Contudo, parece ser consensual que a psicoterapia tem um papel central no tratamento da depressão em idade pediátrica, reservando-se o uso de psicofármacos para os casos de gravidade moderada a severa. Neste artigo procuramos analisar os sintomas chave para o diagnóstico numa abordagem desenvolvimentista, e apresentar uma proposta de metodologias de intervenção dependendo da gravidade e das especificidades do desenvolvimento em cada caso clínico.

  • Perturbação Depressiva na 1ª Infância – Uma Herança? (de mãe para filho…) – Relato de Caso
    Filipa Maria Dias Moreira, Vânia Miranda
    Depressão, Primeira infância

    Introdução: A primeira descrição do bebé deprimido data de 1940, por Spitz. Contudo, não é consensual que se possa falar de depressão em idades precoces. No entanto, observam-se sintomas que representam sofrimento atual em bebés muito pequenos e que remetem para quadros depressivos (classificados na DC0-3R). A depressão materna é um fator de risco reconhecido para depressão na criança. Objectivos: O principal objetivo deste estudo consiste no relato de caso relativo a uma criança de 19 meses, com diagnóstico de Perturbação Depressiva NOS e sua integração na literatura já existente, nomeadamente na relação que existe com depressão materna. Relato de caso: Criança de 19 meses, enviada à consulta por suspeita de Perturbação Multissistémica do Desenvolvimento. De destacar, que a mãe e a avó materna (que cuidava da criança no período laboral dos pais) apresentavam sintomatologia depressiva. A criança iniciou intervenção com Floortime®, e foram dadas indicações aos pais para a existência de um tempo diário no domicílio de atenção positiva para com a criança, com aplicação de estratégias aprendidas nas sessões. A mãe reiniciou acompanhamento por psiquiatria de forma mais regular; a criança iniciou Terapia da Fala e Terapia Ocupacional, e foi integrada em Jardim de Infância. Observou-se após 3 meses de intervenção, uma remissão da sintomatologia. Neste momento (um ano depois do início do acompanhamento), apresenta desenvolvimento normativo para a sua idade, sem indícios de psicopatologia. Ficou com diagnóstico final de Perturbação Depressiva NOS. Discussão e Conclusões: Neste caso, que inicialmente se apresentava como uma Perturbação Multissistémica do Desenvolvimento, correspondendo possivelmente à fase de retirada da Perturbação Depressiva, pode constatar-se como fator de risco importante a depressão materna. Várias caraterísticas inerentes à depressão materna constituem fatores de risco para depressão na criança, nomeadamente a hipoestimulação, receio de rejeição por parte do bebé, interpretação enviesada dos sinais do bebé, sentimento de incapacidade e menor interesse no bebé.

  • Psicomotricidade e Saúde Mental Infantil e Juvenil – Carterização de uma Consulta de Psicomotricidade Integrada num Serviço de Pedopsiquiatria
    Katherine Figueira, Carina Freitas
    Psicomotricidade, Saúde mental, Pedopsiquiatria, Equipa multidisciplinar

    Introdução: A intervenção psicomotora no âmbito da saúde mental infantil e juvenil foi introduzida em Portugal por João Dos Santos. Em contexto clínico, a Psicomotricidade visa compreender e resolver os conflitos internos da criança, recorrendo a técnicas de mediação corporal para a construção e restruturação do psiquismo. Objetivo: Caraterizar as primeiras consultas de Psicomotricidade do Serviço de Pedopsiquiatria do Hospital Dr. Nélio Mendonça efetuadas de 4 de outubro de 2013 a 30 de julho de 2015, e sensibilizar para o papel do psicomotricista no contexto de saúde mental infantil e juvenil. Material e Métodos: Consultou-se todos os processos clínicos selecionando as seguintes variáveis: sexo, idade, motivo da consulta, diagnóstico, perfil psicomotor e nível socioeconómico. Resultados: Neste período foram avaliadas em primeira consulta 42 crianças e jovens, com uma média etária de 9,69±2,74 anos, sendo a maioria do sexo masculino (n=31; 73,8%). O encaminhamento para a consulta de Psicomotricidade foi realizado maioritariamente pela equipa médica (n=28; 66,7%), sendo o principal motivo de encaminhamento os problemas relacionais. Os resultados da avaliação psicomotora revelaram que a maioria das crianças avaliadas (n=22; 52,4%) apresentava dispraxia. Quanto às caraterísticas psicopatológicas verificouse que uma percentagem significativa dos casos não apresentava qualquer diagnóstico (n=9; 21,4%). Conclusão: A terapia psicomotora no contexto de saúde mental infantil e juvenil assenta numa perspetiva sistémica. Vem trazer contributos importantes no cuidado prestado aos utentes por representar uma área de observação e compreensão das dificuldades da criança e do seu funcionamento psíquico, e ainda por representar um espaço terapêutico e pedagógico de reestruturação psíquica, que permite outra forma de expressão dos conflitos internos que não a linguagem.

  • Promoção da Qualidade de Vida de Adolescente com Perturbaçõe Mentais: Intervenção Psicoterapêutica de Grupo
    Marta Pedreira, Vera Ramos, Paula Zaragoza, Isabel Carvalho, Isadora Pereira, Pedro Pires, Isabel Leal
    Adolescentes, Pais, Perturbações mentais, Impacto psicossocial, Intervenção terapêutica em grupo, Qualidade de vida relacionada com a saúde

    Considerando o aumento do número de adolescentes com problemáticas emocionais e comportamentais, desenvolveu-se um programa de intervenção psicoterapêutico em grupo, tendo em consideração o impacto psicossocial que estas perturbações têm a curto, médio e longo prazo. Deste modo, pretendeu-se perceber as alterações nas representações de qualidade de vida dos jovens, mediante a intervenção, de acordo com a perceção dos próprios como dos pais. Traduz-se num estudo comparativo entre dois momentos de avaliação e entre dois grupos. O grupo de adolescentes, constituído por 21 jovens, de ambos os sexos e com idades entre os 12 e os 18 anos. O grupo de pais, com 22 elementos e com idades entre os 38 e 63 anos. Aplicou-se, a ambos os grupos, o instrumento Kidscreen-52 (Gaspar & Matos, 2008) nas duas fases de avaliação. Verificou-se que os adolescentes, após a intervenção, percecionaram uma melhoria na qualidade de vida, corroborada pela perceção dos pais. Para os adolescentes as diferenças significativas entre as duas fases foram na dimensão sentimentos e amigos. Para os pais, além da dimensão sentimentos, também na dimensão estado de humor geral e tempo livre. Podemos afirmar que o programa permitiu que os adolescentes vivenciassem um processo de mudança pessoal, desenvolvendo e consolidando competências interpessoais e intrapessoais, influenciando positivamente a perceção sobre a qualidade de vida.

  • Estigma e Crenças Parentais sobre a Pedopsiquiatria e uso de Psicofármacos na Infância e Adolescência
    Patrícia Mendes, Filipa Moreira, Maria Fonseca, Luísa Morais
    Estigma, Psiquiatria da Infância e da Adolescência, Infância, Psicofármacos, Crenças parentais

    Introdução/Objectivos: Estima-se que 20% das crianças e adolescentes do mundo tenham uma perturbação mental. O estigma pode afastar ou atrasar a procura de cuidados especializados. Por outro lado, o aumento do uso de medicação psicotrópica entre crianças e adolescentes é um fenómeno global. A percepção parental do estigma quanto ao tratamento pedopsiquiátrico e a atitude face aos fármacos psicotrópicos são temas fundamentais na procura e manutenção dos cuidados prestados nos serviços de saúde mental, pelo que devem ser estudados e abordados. O objectivo deste estudo consiste em descrever as percepções de estigma e crenças parentais sobre o tratamento pedopsiquiátrico e uso de psicofármacos na infância e perceber se ter um filho em tratamento num serviço de saúde mental infantil altera estas crenças. Métodos: Foi efectuado um estudo transversal, aplicando um questionário a 200 pais com um filho em acompanhamento no Serviço de Pedopsiquiatria do Hospital de Braga (grupo 1) e a 200 pais sem qualquer contacto com Serviços de Saúde Mental Infantil (grupo 2). Resultados: Não foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos quanto ao nível de estigma sobre tratamento pedopsiquiátrico. Obteve-se uma diferença estatisticamente significativa para as opiniões sobre psicofármacos, apresentando a amostra de pais com filhos em seguimento pedopsiquiátrico crenças mais positivas quanto aos temas: sobremedicação, embotamento afectivo, atraso na resolução de problemas reais e evitação dos problemas familiares. Conclusão: Os resultados obtidos revelam a existência de crenças parentais preocupantes, que podem levar a consequências negativas para a saúde mental das crianças e adolescentes, o que demonstra a importância de se investir na informação e sensibilização dos pais.

  • Abordagem Terapêutica na Perturbação de Hiperatividade com Défice da Atenção HIPERATIVIDADE COM DÉFICE DA ATENÇÃO EM IDADE PEDIÁTRICA
    Paula Barrias, Carlos Nunes Filipe, Catarina Santos, Guiomar Oliveira, Isabel Santos, Margarida Grujo, Paula Freitas
    Défice de atenção, Hiperactividade, Terapias farmacológicas, Terapias comportamentais

    A Perturbação de Hiperatividade com Défice da Atenção (PHDA) é uma Perturbação do Neurodesenvolvimento com individualidade categorial reconhecida e que interfere significativamente com o funcionamento do indivíduo. A intervenção terapêutica deve ser, necessariamente, adaptada à idade e à condição do indivíduo. Quando está indicado o tratamento farmacológico, o metilfenidato tem sido o fármaco mais utilizado. A medicação, apesar da sua eficácia e da simplicidade do seu uso, não deve ser entendida como sendo a única medida a tomar. Tem sido demonstrado que, na maioria dos casos, está aconselhada uma abordagem multimodal, associando a medicação com intervenções psicoeducativas, intervenções comportamentais e mudanças e/ou ajustamentos educacionais. As intervenções não farmacológicas potenciam e complementam os resultados, podendo permitir a construção de estratégias adaptativas que, tanto a curto, como a longo prazo, podem beneficiar o desempenho do paciente.

Nº 40 >

Editorial

A inquietação e a capacidade reflexiva de todos aqueles que trabalham na "nossa" área da saúde mental da infância e adolescência contínua bem ativa. A realidade atual da sociedade e da clínica coloca-nos desafios, não necessariamente novos, mas que exigem possivelmente novas respostas. Neste número trazemos-vos temas bem pertinentes e que merecem a nossa reflexão.


Download do editorial


  • Comportamentos suicidários na criança
    Andreia Basílio, Carina Freitas
    Comportamentos suicidários, Ideação suicida, Suicídio, Tentativa de suicídio, Criança, Avaliação

    Os comportamentos suicidários na criança são considerados situações raras. Contudo, o facto de estes parâmetros serem sub-notificados e pouco estudados dificulta a obtenção de estatísticas e informações fidedignas. O objetivo deste artigo é rever os conceitos atuais, epidemiologia, evolução do conceito de morte na criança, fatores de risco e de proteção e fornecer orientações para a avaliação clínica e abordagem terapêutica da crise suicidária.

  • Intoxicação aguda por substâncias psicoativas na adolescência: Abordagem na urgência pediátrica
    Joana Matias, Ana Alves, Paulo Calhau
    Substâncias psicoactivas, Intoxicação aguda, Adolescência, Urgência pediátrica

    A adolescência é um momento especial da vida do indivíduo, caracterizado por várias mudanças físicas e mentais. A experimentação de substâncias psicoativas nesta faixa etária associa-se, potencialmente, a situações de intoxicação aguda, mais frequentemente por cannabis com quadros clínicos ligeiros e sem necessidade de tratamento. No entanto, poderão surgir, pontualmente, quadros de intoxicação mais graves. É por isso fundamental que qualquer profissional de saúde saiba diagnosticar e atuar nestas situações. O primeiro passo da abordagem de qualquer adolescente gravemente doente consiste na avaliação primária e estabilização inicial, respeitando-se os princípios ABCDE do suporte básico de vida. Posteriormente, a avaliação secundária (anamnese, exame objetivo e exames complementares de diagnóstico) poderá ajudar na identificação da(s) substância(s) psicoativa(s) consumida(s) e na orientação da terapêutica subsequente. A terapêutica dirigida consiste em três pilares principais: diminuir a absorção do tóxico, antagonizar a sua ação e tratar as complicações. As medidas de descontaminação (nasal ou gastrointestinal) só muito raramente estão indicadas. Quanto ao uso de antagonistas, apenas os opiáceos têm antídoto específico, a naloxona. O tratamento das complicações é fundamental, sendo as benzodiazepinas os fármacos de primeira linha na maioria dos casos. Após a estabilização clínica, é importante manter o doente em vigilância. Posteriormente, após a alta hospitalar, o adolescente deverá manter acompanhamento em consulta especializada.

  • Morbilidade psiquiátrica na artrite idiopática juvenil: Revisão não sistemática
    João Caseiro
    Artrite idiopática juvenil, Morbilidade psiquiátrica, Incapacidade

    A artrite idiopática juvenil (AIJ) é a doença reumática crónica pediátrica mais comum. É uma causa frequente de perda de funcionalidade, de incapacidade, de dor, de limitação da mobilidade articular, de rigidez articular e de má forma física nos jovens e adolescentes. O curso da doença é variável, não só consoante o padrão clínico da AIJ, de acordo com os critérios da International League of Associations for Rheumatology, mas também dentro de um mesmo padrão clínico. Apesar de ser aceite que uma maior incapacidade física se associa a uma incidência aumentada de depressão e perturbações de ansiedade em adultos com artrite reumatoide não há consenso no que respeita a este impacto em crianças com AIJ. O objetivo deste trabalho foi fazer uma revisão da literatura publicada nos últimos 3 anos sobre a morbilidade psiquiátrica entre os doentes com AIJ. Foram pesquisados através da PubMed todos os artigos em Inglês publicados nos anos de 2013, 2014 e 2015 (até final de julho) com o termo MeSH “Juvenile idiopathic artrhritis”. De um total de 1259 artigos encontrados na pesquisa feita na PubMed 2 foram considerados relevantes, já que eram os únicos que diziam respeito a morbilidade psiquiátrica em doentes com AIJ. Conclui-se assim que poucos estudos têm sido publicados sobre a relação entre AIJ e morbilidade psiquiátrica, não se podendo, à luz da evidência atual, considerar que crianças e adolescentes com AIJ apresentam um risco mais elevado de apresentarem dificuldades do foro psíquico. Ainda assim, e apesar de com os estudos já publicados se poder excluir uma forte ligação entre AIJ e psicopatologia, falta um estudo prospetivo, preferencialmente multicêntrico, que agrupe os utentes com AIJ consoante o seu padrão clínico, severidade da doença, limitação física causada e avalie nestes grupos, comparando-os com um grupo de controlo, a prevalência de psicopatologia ao longo do tempo.

  • Criança institucionalizada: Das consequências dos maus-tratos à intervenção
    José Sargento
    Maus-tratos infantis, Institucionalização, Psicopatologia

    Procura-se, neste trabalho, pensar as consequências dos maus-tratos no desenvolvimento e saúde mental das crianças e jovens institucionalizados. Exploram-se as diversas manifestações de sintomatologia psicopatológica que poderão decorrer dos maus-tratos, refletindo-se, também, acerca das situações em que o sofrimento da criança parece encapsulado numa reação de choque, que inibe a expressão sintomática aberta no imediato, atirando-a para o médio ou longo prazo. Aborda-se a intervenção e a necessidade da Instituição se afigurar como uma fonte de novos modelos e padrões relacionais. Enfatiza-se, neste sentido, a importância da capacidade reflexiva da Instituição no que concerne às reações e contrarreações emocionais que a criança desperta em cada um dos técnicos e na Instituição como um todo. Reflete-se, ainda, acerca da importância de uma avaliação psicológica cuidada, que possa fornecer coordenadas claras para a intervenção psicológica e/ou psicofarmacológica, assim como para a gestão das atividades lúdicas e pedagógicas.

  • Primeira Infância: O lugar da linguagem na comunicação
    Maria Campeão Moura
    Linguagem, Comunicação, Primeira infância, Intersubjectividade

    A questão da emergência da linguagem surge como pano de fundo ao desejo de abordar a comunicação que se estabelece ao longo do desenvolvimento psicoafectivo da primeira infância. Apresenta-se uma vinheta clinica de uma criança com 25 meses com uma perturbação ao nível da relação e comunicação, onde o fluxo de troca recíproca apresenta particularidades, com o intuito de pensar o lugar da linguagem ao nível do estabelecimento relacional. Numa perspectiva que se pretende integradora e indagante dos processos de desenvolvimento do próprio, nos condicionamentos da existência que nasce e se estabelece na relação com o outro, ficam algumas ideias para explorar.

  • Vinculação nas perturbações do espectro do autismo - A prpósito de um caso clínico
    Patrícia Mendes, Vânia Miranda
    Autismo, Vinculação, Infância, Prestador de cuidados

    Na descrição inicial de Kanner em 1943, o autismo focalizava-se sobre a dificuldade relacional e aparente “ausência de vinculação”. De facto, pelos défices inerentes ao espectro autista, estas crianças podem evidenciar dificuldades muito precocemente na sua interacção com a figura de vinculação, evidenciadas pela ausência de reciprocidade, falha na interacção ocular, ausência de sorriso e de outros sinais de vinculação. Assim, podemos questionar qual o papel da vinculação no desenvolvimento da criança autista, uma vez que o défice básico nesta patologia incide na capacidade relacional. Os autores propõem-se a uma reflexão sobre as particularidades da vinculação nas Perturbações do Espectro do Autismo (PEA), suportada pela bibliografia existente sobre esta temática, a partir da descrição do caso clínico de uma criança de 20 meses, diagnosticada com uma PEA e inicialmente sem expressão de comportamentos de vinculação, que ao longo de uma intervenção de suporte à interacção com os cuidadores começou a evidenciar sinais claros de uma vinculação segura.

1 2 3 4 5 >>